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terça-feira, 8 de abril de 2014

Opinião?

A nova onda do momento: "mas é a minha opinião". Todo mundo dá opinião em tudo. Eu acho ótimo dar opinião! Dar opinião significa fazer uma análise crítica sobre aquilo, fundamentada em fatos e verdades. Sim, não considero opinião algo desonesto e mal informado: baseado em coisa nenhuma com criticismo zero. 
E as pessoas querem dar opinião em tudo! Elas realmente se acham capazes de absorver toda cultura possível. Tem gente que dá opinião em futebol, vestido de noiva, papa, política, economia, feminismo, racismo, compra de refinadora, culinária e etc. 
O problema é que geralmente essas pessoas que opinam em tudo, não estão opinando nada. Normalmente baseadas no senso comum, no achismo, no compartilhamento de hoax e no professor da faculdade que só fala o que convém e ainda "pinceladamente". 
As "opiniões" mais recorrentes do mundo virtual são sobre: feminismo e comunismo; todo mundo quer regulamentar o feminismo; todo mundo quer demonizar o comunismo. 
Quanto ao feminismo eu vejo uma eterna necessidade masculina de ganhar uma estrela por ser feminista~ (o que, ~na minha opinião~, não é nada mais do que a obrigação de um ser humano querer que o outro tenha direitos e seja tratado com dignidade) e também de regulamentar o feminismo: "a minha opinião é que...feminista exagera, não precisa tirar a roupa, blablabla". Ao dar sua opinião sobre o feminismo o homem atesta seu próprio desconhecimento do que é o feminismo: dar voz às mulheres em primeiro lugar e se abster de julgamentos rasos (sobre o tamanho da roupa, a nudez) dos homens em relação ao nosso gênero. Isso não pode ser considerada uma opinião! Isso pode ser considerado um atestado de que realmente a pessoa não entende do assunto e está apenas querendo se aparecer falando nada com coisa nenhuma sobre algo que ela não entende. 
Quanto ao comunismo: o capiroto voltou, salve-se quem puder. As pessoas criticam o comunismo sem saber do que se trata, porque o professor disse na aula de sociologia da 8ª Série que O Capital era coisa do lúcifer e que nem precisava ler porque não tava perdendo nada, que era apenas um ensaio sobre a loucura e que é tudo utópico porque COMUNA É TUDU AÇAÇINU E NUM É COMUNA SI CÓMI MÉQUIDONALDIS E TOMA KOKAKOLA. 
Não que eu pregue o comunismo, ou que eu deseje que o Brasil vire de fato comunista, ou que eu realmente seja uma expert em comunismo e em política. Obrigatoriamente alguma coisa eu tive que saber por conta da minha formação, Ciências Econômicas. O que eu não suporto não é gente discordando das coisas, é gente demonizando as coisas sem saber o que tá falando baseada no senso comum. 
Minha discussão aqui não é se o comunismo funciona, se Cuba é boa, se Fidel matou, se ele usa Adidas, se ele já comeu big mac, se ele já deu o toba. Não quero saber por hora. Minha discussão aqui é esse impulso por opinar sobre tudo com o mínimo ou nenhum conhecimento. 
Minha indagação é até onde esse efeito manada vai? Só pode ser um efeito manada: todos os dias vejo crescendo o número de pessoas que compartilham hoax: bolsa prostituta, bolsa presídio, bolsa crack, comunas mataram 100 bilhões de pessoas (e no mundo HOJE só temos 7, vai ver os comunas~ foram pra Marte, pra Júpiter e pra Saturno, encontraram gente lá e esconderam a informação, bando de ditadores!!11onze!!!). 
Minha surpresa é como essas mesmas pessoas que fuzilam a ~ditadura comunista~ fazem vistas grossas às ditaduras capitalistas (EUA). Só pode ter um problema nisso. Uma dissonância cognitiva, uma impulsividade, ansiedade, uma epidemia comportamental fruto das redes sociais. 
Eu fico imaginando esse pessoal espumando pela boca batendo a mão no teclado, esperneando, enrolado na bandeira do Brasil em frente ao computador o dia todo. Eu raramente vejo uma discussão pautada em fundamentação, eu raramente vejo uma discussão que não vire ataque pessoal ou a "vomitação" de clichês e jargões preconceituosos já refutados e re-refutados. 
Oras, eu faço parte do feminismo, mais do que das organizações de esquerda. Dentro do feminismo temos discordâncias (umas defendem o poliamor, outras não, por exemplo) e sabemos lidar muito bem com isso. Nunca vi virar ofensa, nunca vi virar rasgação e tiração de calcinha pela cabeça, tiro, porrada e bomba. Não estou falando que nós feministas somos seres dotados de racionalidade máxima, mas estou fazendo referência a um grupo de pessoas que tenho contato que realmente estudam e se fundamentam sobre o assunto para discuti-lo. 
Fico pensando se todas as pessoas resolvessem opinar sobre aquilo que realmente têm conhecimento ao invés de despejarem um caminhão de clichês, coisas refutadas, sem fundamentação. Isso traria ótimos produtos porque poderíamos construir novos conhecimentos ao invés de ficar patinando em coisas que já foram ditas, já foram refutadas e que algumas pessoas (os opinadores de plantão) repetem e esperneiam que estão corretos e que não há refutação possível para àquilo. 
Acho que está faltando um zoneamento entre as pessoas. Já ouviu falar em Zoneamento Socioeconômico? Que cada região concentra a produção em sua especialidade? Claro que eu tenho minhas ressalvas ao Zoneamento Socioeconômico, mas depois de pensar um pouco, acredito fortemente que um Zoneamento desse para os ~opinadores~ seria uma boa: cada um estuda e se aprofunda no que lhe agrada, discute e produz novos conceitos, conhecimentos, novas conclusões. 
Essa onda de achismos, proferida principalmente pela Rachel Sheherazade (não importa o quão rasa, falsa, preconceituosa e etc é a coisa que eu to falando, mas é minha opinião e todo mundo vai ter que engolir e ninguém é capaz de refutar!) não é nada benéfica para o conhecimento humano. Não é nada produtiva para o tempo que despendemos em um computador proferindo coisas (opiniões) que o menor sentido fazem. 
Vamos ler mais? 

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