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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Goiás

O que me mata nesse lugar é a saudade do Cerrado. O tanto asco que me dava aqueles galhos secos nos intermédios de Iporá, Piranhas e São Luis dos Montes Belos hoje se transformou na saudade que tenho do seco interior de Goiás.
Sinto saudade até do suor insuportável dos homens bêbados que eram pegos em meio a estrada nos barzinhos que ali ficavam, o famoso ônibus pinga-pinga a caminho da Cidade de Goiás.
Valia a pena passar por uma viagem insalubre como essa, a recompensa ao chegar a cidadezinha histórica era grande. Gostava do coreto, tinha um chafariz pintado a mão, branco e azul e um hippie que ali ficava cujo a simpatia me incomodava profundamente, simpatia mercante. Ali vivi o meu primeiro show do Pedra Letícia, a minha primeira viagem de mochila com o meu eterno companheiro da vida, Ícaro. Sabia que seu nome lhe agregaria as asas da estrada e assim me acompanharia até de ônibus atravessando o sertão baiano como fizera.
Goiás, Goiás, eu que tanto desejei ter você por perto assim me afastei por longos dois mil quilômetros em direção ao perigoso sul do Pará, de floresta amazônica nativa empoeirada, sem horizonte, tudo muito plano, a unica coisa que me agrada nessas estradas é o tapete verde que a soja forma, o tapete sem fim.
Goiás, eu que tanto desfrutei da sua lindíssima capital, o tanto que vivi nela em tão pouco tempo, o tanto que fui feliz aí, ainda carrego um resquício dessa felicidade pra suportar aqui.
Saudade do capoeirão, saudade do cerrado campo sujo, saudade do baru amargo, saudade do cheiro de pequi que nunca gostei, saudade do Maria Isabel, do feijão tropeiro copiado de Minas, saudade dos índios bororós carregando seus rebentos no bakité feito com toda minúcia, saudade das suas noites quentes com vento gelado, das suas manhãs ensolaradas e frias, das suas tardes quentes insuportáveis.
Goiás, um dia volto pra você.