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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Medo.

Chega no final do dia, às vezes, e eu tenho medo. Eu olho para o espelho e parece que eu sou apenas aquele reflexo no fundo do vidro, que desse lado não existe matéria, é como se minha consciência flutuasse e o espelho me enganasse com uma forma humana qualquer insistindo em ser eu. Tenho a sensação que minha vida é uma farsa, pois só existe pensamento solto, voando por aí, não tem forma nem cor, não tem visibilidade, parece que a faculdade a qual freqüento não existe, que as pessoas não existem, parece que inventaram um sentimento e colocaram dentro de mim, parece que as pessoas não são de verdade assim como eu. Elas dizem sem ter boca pra falar, eu escuto o som, mas sem os ouvidos, "isso é delírio!", me sinto forjada, ludibriada, a única coisa que consigo fazer é girar em 360º perturbadamente, aquela forma uma humana que eu vira no espelho me assusta, me enoja, parece que eu me engano, me saboto. Tudo em minha volta fica ofensivo, uma chuva de canivetes vinda na horizontal, me atravessando, sem ter corpo pra ser rasgado. Nesses dias nada mais faz sentido pra mim, dá vontade de fugir de tudo, até de mim, pois na possibilidade de existir um corpo, não sentirei dor.