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sábado, 7 de novembro de 2009

A minha magia.

Aquela mulher entrou na minha sala como se fosse dela. Era altiva, os olhos compridos que se escondiam atrás de um óculos de aros invisíveis, corpo esguio, todos os fios de cabelo milimetricamente colados no couro cabeludo com gel e terminavam em um coque muito bem feito, tinha a pele parda, os olhos bem negros e uma cintura bem colocada, era mais uma das funcionárias públicas da Universidade que estudo, assim como as demais, chegam na nossa sala de aula interrompendo o raciocínio e o fluxo de pensamento munidas de um maço de panfletos informativos de alguma atividade que a faculdade vai fazer. E assim ela fez pedindo com licença, quase que automaticamente, para o professor. Foi nos falar de um festival de Teatro que aconteceria nos proximos dias ali nas dependências da faculdade, com uma fala muito bem ensaiada, disse da importância do teatro como dominadora do assunto, colocando um toque poético de atriz nada condizente com sua aparência.
Pela primeira vez quis dar ouvidos para as informações que aqueles inúmeros funcionários iam nos dar todos os dias na nossa sala seguidos de dois toques na porta como pedido de licença. Assim como aquela mulher me adestrou, fui ao auditório da Universidade assistir a uma peça teatral do festival.
Era um palhaço que estava no palco, mas não era um palhaço comum, não era daqueles palhaços que fazem coisas alegres e nos tiram meio sorriso como que por obrigação de rir depois de uma graça infundada. Ele tinha um jeito áspero e rude, falava com uma voz rouca e firme quase incompreensível, acredito que ele queria nos atentar para suas expressões faciais e corporais ao invés do que saia pela sua boca.
Eu ri bastante, quase que descontroladamente, o que mais me fazia rir era ver as crianças totalmente envolvidas pelo palhaço, ele fez seu jeito rude ser cômico.
O teatro é uma coisa fantástica, a gente se sente lá no palco junto com o artista e por algum momento pensa como ele é sem aquelas maquiagens e simultaneamente estamos totalmente envolvidos pelo persongem que esquecemos que ele é um ser humano comum como nós. Por mais que haja esse enlace sentimental com a apresentação a gente sabe que está ali, sentado na cadeira e o que o mundo la fora continua rodando no seu compasso, que ele nao parou pra gente sentar ali e viajar, mas também nos desligamos do mundo e achamos que tudo se resume àquele holofote com um personagem, que o mundo é maravilhoso e perspicaz nos seus sentidos.
Diferente do que a gente almeja no mundo fora do auditório do Teatro, que é alcançar a luz, quando estamos no mundo teatral a luz é o fim de tudo, é o que nos sinaliza que aquele mundo mágico acabou, que está na hora de nos levantarmos e irmos de volta pro mundo real.
Ali, naquele teatro, vendo o fim da vida daquele palhaço no palco me deu essa sensação descrita, senti que na minha escravaninha lá no mundo real, milhares de conhecimentos científicos me esperavam para serem compreendidos e toda aquela magia viraria palavras, palavras registradas para que um dia eu as leia e lembre com saudade.