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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Olhos.

Aqueles olhos de fogo fumegavam, eram duas amendôas negras e brilhantes, que olhavam debaixo para cima sendo pleinadas por belos cílios moldados por rímel, diziam em uníssono: tesão.

Ausente.

Era do tipo menina-mulher que precisava de uns rompantes na vida pra devolver sua alegria em relação as pessoas. Por ausência, achava, por um momento que tinha errado com o ausente, tinha magoado, decepcionado, não entendia que a vida seguia do lado de lá e que as cores e as formas, as lembranças ficam dentro da cabeça, naquele campo emocional que já não fica metaforicamente no coração. Mas é só o ausente aparecer de novo e tratá-la com o mesmo calor que fica tudo bem, ela quase se auto-flagela com um beliscão e resmunga: "Que asno sou!".

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

?

O tanto que ja me ensaiei pra você, fui e voltei, fiz e refiz, tava indo, chegando e parei. Pensei bem no que perder, ganhar talvez, fiz assim, de longe, respirei fundo, dei pausa, observei, só assim te entendi, te filmei, e vi que não era bem aquilo que eu queria pra mim, ou por um momento.

Canina menina felina.

Seus olhos de felina, menina, tua personalidade canina.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mariana

Era 14 de Janeiro de 1988, e como de costume, o verão. Assim veio ela, registrada Mariana, veio junto do sol daquele tempo iluminar a vida de alguém e de alguns. Tão pequena, tão frágil, tão forte, tão sadia. Sua mãe a olhou com os olhos que Mariana herdara, não de cor, mas de formato, com alegria e amor. Por azar ou sorte, só a conheci dois anos depois, eu não entendia muito bem o que era ser, ou estar, estava na mesma condição de Mariana no dia 14 de Janeiro de 1988, chegando ainda, apenas sendo olhada com olhos semelhantes e desiguais, mas sem enxergar nada. Com o tempo a conheci e gostei, não por alguém ter me falado que era do meu sangue, mas por ela ser extremamente diferente de mim, preenchendo os buracos do meu eu. Hoje, 14 de Janeiro de 2010, passaram-se 22 anos e eu ainda sinto e penso a mesma coisa de la, nem mais, nem menos, admiração.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Depois de uma noite de sábado conturbada, que por um momento pode ser ruim, mas diz respeito ao grau de badalação de uma saída, pegou um ônibus às dez da manhã e partiu pra capital do seu estado, era cativa do centro-oeste, nascida tão longe dali mas criada na cartilha matogrossense, com todos os nhos comidos das palavras, com todo coentro no pastel, com todo o pequi na galinhada que não gostava, com toda a catira que viu todos esses anos, mas nunca dançou. Viagem longa, quinhentos quilômetros eternos devido a sossegada prática de arrebanhar os passageiros nas porteiras de suas chacrinhas. Chegou na capital o sol já havia caído, mesmo com aquela Lua cheia engolindo a cabeça parecia que o Sol tinha ido dormir e tirou sua roupa quente deixando-a sobre a cidade. Na rodoviária esperou, esperou o moço com o qual havia combinado se encontrar, era amigo de uma amiga sua, era o primeiro contato entre os dois, logo se reconheceram naquela vasta rodoviária e entre malas e simpatia se abraçaram, as malas se acomodaram no porta-malas e seguiram viagem para a residência do simpático moço. No caminho conversavam como se conhecessem há tempos, chegaram na casa do hospedeiro de uma família hospitaleira tanto quanto o seu sorriso, assim ela tomou um banho rápido e o rapaz rapidamente sugeriu uma saída pela capital. Foram para a casa de um casal de amigos do moço, logo ela se enturmou, comunicativa que era não foi difícil se socializar, dadas três da manhã decidiram retornar para casa, chegando lá não se contentaram em simplesmente dizer boa noite e dormir, ficaram conversando por horas a fio de assuntos variados, de corte e costura a sexo para aí sim se despedirem e dormirem até às onze da manhã para almoçarem numa peixaria, como o combinado, o fizeram, almoçaram o peixe ali, as margens do Rio Cuiabá, uma vista bonita dando de capturar sua real beleza apenas com a retina. Seguiram para o shopping em busca de um filme para assistir, Avatar 3D, soava algo geek, mas ela topou e gostou, na saída encontraram um amigo do rapaz se deliciando num rodízio de pizza no shopping, quiseram o acompanhar. Depois de terem se empanturrado foram para a casa, tomaram banho e saíram novamente para uma cerveja. O silêncio reinou na mesa do bar, só se via a fumaça dos cigarros dizendo adeus, a desculpa para tanta quietação era a heresia alimentar que haviam cometido. Após a cerveja foram para a casa do amigo adorador de rodízio de pizza, beberam mais um pouco, largaram o amigo por lá e voltaram para a casa, a volta não foi muito direta, o contato tão próximo entre esses dois jovens ao longo desses dias fez com que a líbido de ambos explodisse e não resistesse a parada em um lugar próprio para liberá-la, depois de explodirem voltaram para a casa e dormiram com hora marcada para acordar, no outro dia ela iria embora e tudo aquilo que acontecera ficaria guardado no campo da memória ou em uma folha qualquer.

Saudade.

Saudade da terrinha e de tudo aquilo que plantei.
Daquela vez que plantei sorriso e nasceu amizade.
Daquela vez que plantei angústia e nasceu apoio.
Daquela vez que plantei ira e nasceu perdão.
Daquela vez que plantei solidariedade e nasceu recompensa.
Daquela vez que plantei amor próprio e nasceu valor.
Daquela vez que plantei sensualidade e nasceu tesão.
Daquela vez que plantei desprezo e nasceu remorso.
Daquela vez que plantei arroz e nasceu feijão.
Daquela vez que me plantei e nasci de novo.
Daquela vez que nos plantei e nascemos outra vez.
Daquela vez que deixei de aguar e secou.
Daquela vez que sequei e me deixei aguar.
Daquela vez que me aguei, e nasci.