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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Miscelânea de recalque.

Bom, eu nem sei nem por onde começar. Acho que vou começar pelo professor que citou a nossa diva e rainha Valesca e vou terminar com a minha indignação com profissionais de Direito que proferem coisas descabidas sobre sociedade e direitos humanos.
Todo mundo já sabe da chuva de revolta em torno da citação do trecho da música da Valesca na bendita prova. Primeiro, bando de hipócrita: a vida precisa de um pouco de humor. Os mesmos que esperneiam com a citação de Valesca (que é algo realmente engraçado, não menospreza, diminui, humilha ou subjuga alguém), são os mesmos que acham graça das piadas de Gentili, Rafinha Bastos com deficiente, gorda, grávida e etc. Isso mostra que o nível do humor de vocês é bem baixo e digno de pena. Segundo, vocês não entendem porra nenhuma da própria sociedade brasileira. Não sabem nem o que é funk. Não sabe nem o que isso representa. Ignoram a sociedade pobre, preta e favelada que é a produtora desse estilo musical que carrega sua história, sua realidade, suas mazelas, suas vitórias, suas visões, mas a música negra americana pode. Claro que pode. Vocês são tão detentores de todo o conhecimento existente que só sabem falar a própria língua (e muito mal por sinal) e não entendem nada quando o 50cent fala que I will take you to the candy shop, I will let you lick my lollipop. Terceiro, bando de fiscal de buceta. Por que o chilique com o "tipo" da Valesca? Porque ela mostra o corpo dela, assume o corpo que tem, modifica quando tem vontade, dá pra quem quer (e com certeza para você ela não daria, porque você é apenas um machistinha pau mole) e não faz isso em função da vontade masculina. Sim. Não menosprezando as mulheres frutas, elas têm sua representatividade, no entanto assumem personagens objetificados sexualmente. a Valesca assume outro personagem. Ela assume o personagem do empoderamento.
O que é empoderamento? Empoderamento é dar poder, elevar a auto-estima, dar representatividade e voz a um grupo. A Valesca faz isso com as mulheres, com as pessoas de baixa renda (beijinho no ombro só pras invejosas de plantão). Tem coisa pior do que ver mulher e pobre com voz para homem da classe-média, pagador de impostos, cidadão de bem e machista?
Pegando o gancho desse assunto, sobre recalque e "reacice", venho aqui me indignar com profissionais de Direito que proferem discursos preconceituosos, relativizam desigualdades sociais e etc. Mas por que a cisma justamente com profissionais de Direito? Oras, considero que um profissional de Direito teve contato com um enorme espectro sobre a história da sociedade brasileira e obviamente com a história da legislação. Poxa, será que em Introdução ao Direito alguém não ensina essa galera que as pessoas são iguais perante a lei, no entanto são diferentes perante à sociedade (infelizmente)? Vejo profissionais de Direito espumarem pela boca mandando feministas, ativistas LGBT, ativistas contra o racismo e etc pararem de CHILIQUE, NEUROSE E VITIMAÇÃO. Alegando que todos somos iguais perante a legislação e que, por exemplo, estupro é um crime como qualquer outro e já existe lei pra isso e a pessoa será presa.
COME ON. Sério que você, profissional de Direito, se sente satisfeito em saber que há prisão pra estuprador? Eu não me sinto satisfeita. Estou insatisfeitíssima. Estou insatisfeita que isso ainda acontece na nossa sociedade e chocada que próprios profissionais do Direito normatizam isso.
Outra coisa que profissionais de Direito fazem que me faz perder a esperança na humanidade: compartilham imagens nas redes sociais mandando as mulheres abrirem livros e não as pernas. Fazem referências preconceituosas a mulheres que optam por se relacionarem sexualmente com vários homens. Relacionam uma fala errada, um deslize, uma falta de conhecimento de uma mulher a suposição dela ser "dadeira", de andar de roupa curta, de ser vadia. Exemplo: Dilma dá uma pisada de bola, a gente lê os comentários nas notícias: vadia, puta, precisa de rola e etc. Caras, será que vocês não vêem que vocês mesmos estão objetificando a mulher? Será que vocês mesmos não vêem que vocês estão expondo as mulheres? É isso mesmo que vocês juraram? É isso mesmo que manda a ética profissional de vocês?
É só isso por hoje.


terça-feira, 8 de abril de 2014

Opinião?

A nova onda do momento: "mas é a minha opinião". Todo mundo dá opinião em tudo. Eu acho ótimo dar opinião! Dar opinião significa fazer uma análise crítica sobre aquilo, fundamentada em fatos e verdades. Sim, não considero opinião algo desonesto e mal informado: baseado em coisa nenhuma com criticismo zero. 
E as pessoas querem dar opinião em tudo! Elas realmente se acham capazes de absorver toda cultura possível. Tem gente que dá opinião em futebol, vestido de noiva, papa, política, economia, feminismo, racismo, compra de refinadora, culinária e etc. 
O problema é que geralmente essas pessoas que opinam em tudo, não estão opinando nada. Normalmente baseadas no senso comum, no achismo, no compartilhamento de hoax e no professor da faculdade que só fala o que convém e ainda "pinceladamente". 
As "opiniões" mais recorrentes do mundo virtual são sobre: feminismo e comunismo; todo mundo quer regulamentar o feminismo; todo mundo quer demonizar o comunismo. 
Quanto ao feminismo eu vejo uma eterna necessidade masculina de ganhar uma estrela por ser feminista~ (o que, ~na minha opinião~, não é nada mais do que a obrigação de um ser humano querer que o outro tenha direitos e seja tratado com dignidade) e também de regulamentar o feminismo: "a minha opinião é que...feminista exagera, não precisa tirar a roupa, blablabla". Ao dar sua opinião sobre o feminismo o homem atesta seu próprio desconhecimento do que é o feminismo: dar voz às mulheres em primeiro lugar e se abster de julgamentos rasos (sobre o tamanho da roupa, a nudez) dos homens em relação ao nosso gênero. Isso não pode ser considerada uma opinião! Isso pode ser considerado um atestado de que realmente a pessoa não entende do assunto e está apenas querendo se aparecer falando nada com coisa nenhuma sobre algo que ela não entende. 
Quanto ao comunismo: o capiroto voltou, salve-se quem puder. As pessoas criticam o comunismo sem saber do que se trata, porque o professor disse na aula de sociologia da 8ª Série que O Capital era coisa do lúcifer e que nem precisava ler porque não tava perdendo nada, que era apenas um ensaio sobre a loucura e que é tudo utópico porque COMUNA É TUDU AÇAÇINU E NUM É COMUNA SI CÓMI MÉQUIDONALDIS E TOMA KOKAKOLA. 
Não que eu pregue o comunismo, ou que eu deseje que o Brasil vire de fato comunista, ou que eu realmente seja uma expert em comunismo e em política. Obrigatoriamente alguma coisa eu tive que saber por conta da minha formação, Ciências Econômicas. O que eu não suporto não é gente discordando das coisas, é gente demonizando as coisas sem saber o que tá falando baseada no senso comum. 
Minha discussão aqui não é se o comunismo funciona, se Cuba é boa, se Fidel matou, se ele usa Adidas, se ele já comeu big mac, se ele já deu o toba. Não quero saber por hora. Minha discussão aqui é esse impulso por opinar sobre tudo com o mínimo ou nenhum conhecimento. 
Minha indagação é até onde esse efeito manada vai? Só pode ser um efeito manada: todos os dias vejo crescendo o número de pessoas que compartilham hoax: bolsa prostituta, bolsa presídio, bolsa crack, comunas mataram 100 bilhões de pessoas (e no mundo HOJE só temos 7, vai ver os comunas~ foram pra Marte, pra Júpiter e pra Saturno, encontraram gente lá e esconderam a informação, bando de ditadores!!11onze!!!). 
Minha surpresa é como essas mesmas pessoas que fuzilam a ~ditadura comunista~ fazem vistas grossas às ditaduras capitalistas (EUA). Só pode ter um problema nisso. Uma dissonância cognitiva, uma impulsividade, ansiedade, uma epidemia comportamental fruto das redes sociais. 
Eu fico imaginando esse pessoal espumando pela boca batendo a mão no teclado, esperneando, enrolado na bandeira do Brasil em frente ao computador o dia todo. Eu raramente vejo uma discussão pautada em fundamentação, eu raramente vejo uma discussão que não vire ataque pessoal ou a "vomitação" de clichês e jargões preconceituosos já refutados e re-refutados. 
Oras, eu faço parte do feminismo, mais do que das organizações de esquerda. Dentro do feminismo temos discordâncias (umas defendem o poliamor, outras não, por exemplo) e sabemos lidar muito bem com isso. Nunca vi virar ofensa, nunca vi virar rasgação e tiração de calcinha pela cabeça, tiro, porrada e bomba. Não estou falando que nós feministas somos seres dotados de racionalidade máxima, mas estou fazendo referência a um grupo de pessoas que tenho contato que realmente estudam e se fundamentam sobre o assunto para discuti-lo. 
Fico pensando se todas as pessoas resolvessem opinar sobre aquilo que realmente têm conhecimento ao invés de despejarem um caminhão de clichês, coisas refutadas, sem fundamentação. Isso traria ótimos produtos porque poderíamos construir novos conhecimentos ao invés de ficar patinando em coisas que já foram ditas, já foram refutadas e que algumas pessoas (os opinadores de plantão) repetem e esperneiam que estão corretos e que não há refutação possível para àquilo. 
Acho que está faltando um zoneamento entre as pessoas. Já ouviu falar em Zoneamento Socioeconômico? Que cada região concentra a produção em sua especialidade? Claro que eu tenho minhas ressalvas ao Zoneamento Socioeconômico, mas depois de pensar um pouco, acredito fortemente que um Zoneamento desse para os ~opinadores~ seria uma boa: cada um estuda e se aprofunda no que lhe agrada, discute e produz novos conceitos, conhecimentos, novas conclusões. 
Essa onda de achismos, proferida principalmente pela Rachel Sheherazade (não importa o quão rasa, falsa, preconceituosa e etc é a coisa que eu to falando, mas é minha opinião e todo mundo vai ter que engolir e ninguém é capaz de refutar!) não é nada benéfica para o conhecimento humano. Não é nada produtiva para o tempo que despendemos em um computador proferindo coisas (opiniões) que o menor sentido fazem. 
Vamos ler mais?